Os testes de stress na banca e a corrida por capital

Os testes de stress à banca portuguesa estão aí à porta e as instituições parecem algo preocupadas com essa questão. Diz-se que estes testes serão mais duros que os anteriores... Eu diria que são os primeiros verdadeiros testes de stress!
Se não é mentira que a banca portuguesa tem vindo a reforçar capital, e que os rácios de solvabilidade se encontram a níveis há muito não vistos, não é menos verdade que alguns dos pontos de debilidade continuam em aberto. Temos, à cabeça, o crédito malparado. Este subiu para os 5,2 mil milhões de euros no primeiro trimestre do ano, representando o imobiliário uma fatia considerável dessa tarte. E o imobiliário, a entrarmos em deflação na zona Euro (já é real, em Portugal), será em breve um problema ainda mais cabeludo.

Os bancos que foram forçados a pedir ajuda estatal têm feito um esforço enorme para devolver rapidamente o dinheiro, já que o juro cobrado é assustador. Aproveitando-se das condições favoráveis do mercado accionista e obrigacionista, parecem agora preparar-se para angariar capital de forma agressiva. Esta semana foi noticiado que o BES e BCP preparam novos aumentos de capital, depois de o Banif ter anunciado o mesmo na semana passada. A administração do BCP apressou-se a indicar que ainda não tinha sido decidido qualquer aumento de capital. Mas não desmentiram a notícia! Nem o poderiam fazer, já que que a necessidade de capital deverá falar mais alto. Aliás, nem poderia ser de outra forma! Como iria justificar o BCP à CMVM que os jornais tivessem sabido mais cedo da notícia do que a autoridade!? Só restava mesmo desmentir...


O que significam estes aumentos de capital para os accionistas? Em primeiro lugar, diluição. Imensa diluição...
Pode argumentar-se que no longo prazo esta medida é benéfica para as empresas. Eu tenho de concordar, é absolutamente fundamental. Mas, a menos que os accionistas estejam voltados para uma vertente mais messiânica, há que pensar quanto tempo irá demorar até que este esforço financeiro solicitado e a confiança comecem a ser recompensados financeiramente! Porque, nesta área, tudo se resume a isso...

Quando as instituições aproveitam um rally do mercado accionista para virem rapidamente colocar acções no mercado a um preço superior, para poderem assim aproveitar um encaixe financeiro superior, essa relação de confiança fica enfraquecida. Quem diz aos investidores destes bancos que este caminho vai ser invertido no futuro? Até onde se estende o problema por detrás de toda esta necessidade de capital? Quão profundo será ele, afinal? Não existiriam outras alternativas em termos de gestão, antes de se partir para novos aumentos de capital? Eu compreendo, é a alternativa mais fácil... é como se o estado fizesse um aumento de impostos, mas passando a ilusão aos seus contribuíntes de que esse aumento de impostos representaria uma oportunidade única...

Pessoalmente não me posso considerar desiludido com a banca, porque nunca estive muito iludido. Aproveitei o rally e negociei BES, BCP e até o Banif. Acreditei que a recuperação seria possível, à medida que a análise técnica mo ia indicando. Hoje coloco essa recuperação em questão, pelo menos no curto e médio prazo. Chamem-me especulador sem coração, mas para já vou voltar a afastar-me da banca. Que não se confunda este post com rancor por alguma perda, pois como é sabido até já tinha vendido as minhas posições há algum tempo e até estou bastante neutro no mercado! Mas custa-me ver, uma vez mais, estas máquinas devoradoras de capital a triturarem a confiança dos protagonistas do nosso mercado accionista.

Uma palavra final para o BPI, que para já se mantém de lado nesta questão. Não sei se o BPI não virá também a necessitar de capital, os testes de stress o ditarão em boa parte. Seja como for, caso se verifique uma inversão na tendência de médio prazo dos bancos nacionais, é pouco provável que este continue a remar contra a maré.
Esperemos que estes aumentos de capital representem um grande negócio para todos os que neles venham a participar. Seria uma excelente medida para o nosso mercado... Considere-se, no entanto, que a esmagadora maioria dos aumentos de capital leva a uma desvalorização dos títulos no médio prazo (3-12 meses). Que ninguém entre neste negócio sem que essa questão esteja devidamente elucidada! O que aconteceu a BCP e BES num passado recente foi algo de atípico, não terá sido certamente a regra...


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