Ajustar ou não o gráfico após dividendos?

Durante os últimos anos tenho vindo a fazer pequenos ajustes na minha forma de ver a análise técnica. Depois de me ter livrado da maioria dos inúteis indicadores e de me ter decidido de vez a alterar a escala dos gráficos para uma base logarítmica, as últimas semanas levaram-me a questionar a minha decisão de ajustar os gráficos após dividendos. Depois de uma troca de argumentos com um colega de fórum, o rsacramento, e da repetição dessa mesma questão com uma leitora deste espaço, a Patrícia Pereira, tenho vindo a questionar-me se os prós da minha decisão ultrapassam de facto os contras.  

Os meus argumentos a favor do ajuste passavam sobretudo pela não existência de gaps irrealistas no gráfico, pela teoria do self fulfilling e pela desregulação que um não ajuste provoca nos indicadores. Sabia no entanto que enquanto utilizava gráficos ajustados que lhes estava a retirar considerável pureza psicológica. 

Porquê? Porque as três principais mais-valias que me levaram em tempos a enveredar por este caminho se afastam cada vez mais da minha forma de fazer análise técnica. Não acredito na profecia dos gaps, de todo. Não fará por isso grande diferença deixar um "buraco" no gráfico à vista de todos desde que esteja devidamente identificado. Cada vez me guio menos por indicadores, raramente os utilizando para análise de curto prazo. Tendo em consideração que o diferencial provocado pelo pós-dividendo desaparece ao fim de poucos dias, o impacto de médio prazo nos indicadores é, ainda assim, controlado. A teoria do auto-cumprimento é aquela que mais me faz hesitar, sobretudo no que diz respeito às linhas de tendência. Verifiquei que de facto em alguns títulos existe uma maior aproximação ao gráfico ajustado, mas em outros são os gráficos não ajustados que apresentam um comportamento mais próximo das LT's.

No que diz respeito aos suportes e resistências, as bases psicológicas da análise técnica, verifiquei, conforme esperado, que nos de longo prazo existe uma maior adaptação nos gráficos não ajustados. É fácil compreender porquê! Veja-se o caso dos CTT, título em que o valor dos 5,52€ está profundamente marcado na cabeça de todos os investidores que foram à OPV. Quando, daqui a uns meses, houver um ajuste no gráfico devido ao pagamento do dividendo, haverá mais investidores a regularem-se pelos 5,52€ para negociar ou por um valor qualquer que apareça no gráfico como sendo o valor de suporte? Pelos 5,52€, seguramente....

Como disse em 2008, altura em que mudei a escala dos gráficos, é a mudar para melhor que se evolui e eu quero continuar a evoluir. Assim continua a ser em 2014, assim continuará a ser em 2020. Espero continuar sempre a melhorar, a mudar o que não está assim tão bem. Continuarei a admitir que estou errado se isso me trouxer benefícios, mesmo que no início me custe, como custa a todos, sair da minha zona de conforto. Fazendo um balanço dos prós e contras, um prolongado e profundo balanço, decidi assim que vou, a partir de hoje, utilizar gráficos não ajustados a eventos e dividendos nas minhas análises.


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