O aumento de capital e as obrigações do Banif

Ultimamente o Banif tem feito correr muita tinta, infelizmente pelos piores motivos. Há uns meses largos que o preço das suas acções não pára de cair, já foi sujeito a um resgate por capitais públicos e o risco de falência continua sem estar totalmente afastado.
Este post tem como objectivo elucidar o processo de aumento de capital e o processo de emissão de obrigações por parte deste banco.

Até ao dia 19 de Julho será possível subscrever acções do Banif ao simbólico preço de um cêntimo. E há muitas para subscrever, mais precisamente 10 mil milhões... Mil por cada português...
Juízos à parte (já tive oportunidade de manifestar a minha opinião relativamente ao Banif antes), pretende-se com este AC angariar dinheiro de forma directa e dar aos não-accionistas uma oportunidade barata de fazerem parte do clube do desespero.


E quais são as vantagens de se ser accionista? Em teoria, existe uma grande vantagem. Poder subscrever a partir do dia 24 de Julho obrigações exclusivas para accionistas, com uma TANB de 7,5% ao ano. Como se processa? Cada accionista pode subscrever 3 obrigações (1€ cada) por cada 100 acções que possua.
A preço de mercado, teriam de ser gastos 7000 euros em acções para poder subscrever 3000 euros de obrigações. Ao "preço promocional" será necessário gastar 1000 euros em acções para se poderem subscrever os mesmos 3000 euros em obrigações.

Hum... Então isso quer dizer que o Banif está a propor um excelente negócio, certo? Não, errado.
Analisemos dois cenários:

1- Falência/nacionalização. A falência será extremamente improvável, a nacionalização será apenas muito difícil de ocorrer. Em caso de falência as contas são simples, todo o dinheiro investido se converte num zero redondo.
2- Continuação das quedas no valor das acções. Este cenário é mais que possível, é quase provável. Existirá a tendência para se convergir no sentido do preço das novas acções, ou seja, um cêntimo. E é aqui que está a primeira ilusão óptica. Os mais inexperientes são levados a pensar que a compra destas acções é um valor seguro, por não ser possível descer-se abaixo de um cêntimo. Grande ilusão...
Os que andam nos mercados há algum tempo lembrar-se-ão do caso da Pararede (agora Glintt). Valia cêntimos, todos pensavam que seria impossível cair mais. O que aconteceu? Uma fusão de acções, que fez o preço enterrar-se até ao subsolo. O que é uma fusão de acções? Se eu for accionista, em vez de ter 1000 acções a valer um cêntimo passo a ter uma acção a valer 10 euros. Mesmo valor, diferente margem psicológica de queda...

Imagine-se o caso de isso acontecer (é tão provável que eu apostava o meu cartão de sócio do Benfica em como vai acontecer) e de nos próximos três anos o preço das acções desvalorizar 80%. Dos 1000 euros investidos em acções para ter acesso aos 3000 de obrigações restariam 200€. Perda de 800€ só nas acções! Recebendo-se pelas obrigações cerca de 450€ de juros, o "investimento" teria resultado em 350€ de prejuízos. Mais o custo de oportunidade. Mais os juros que ficaram por ganhar. Mais algumas noites mal dormidas...

Este é um cenário hipotético mas que na minha opinião é provável o suficiente para me fazer afastar sem a mínima hesitação deste negócio. Se o caro leitor for um crente, acreditando piamente que as acções vão subir de forma galopante nos próximos anos, então estará inclinado para o terceiro cenário:

3- As acções invertem a tendência e começam a recuperar fortemente. Este cenário é tão pouco provável neste momento que nem sequer me vou alongar a explicar porquê. Para tal acontecer teriam de se conjugar todos os astros no céu, mais os factores políticos, económicos e sociais. Pode acontecer, claro. Mas eu não encararia essa possibilidade de forma realista.
Seja como for, boa sorte ao Banif. Enquanto contribuinte dispensava pagar mais uma nacionalização...




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